O frei Manoel Borges da Silveira nos presenteou com um belo artigo de sua autoria (Um carro de boi) justamente com o filme “O último carro de boi”.
O filme é recente. Texto publicado como artigo de fundo, no antigo Lavoura e Comércio, jornal de Uberaba em abril de 1993, tempo que Rui Novais era um dos gerentes do periódico.
Antes da publicação deste artigo o carro encontrava-se na fazenda de João Otaviano, perto de Perdizinha. O autor do artigo soubera que este fora fabricado por seu pai, Antônio Borges da Silveira, (família de 12 filhos), carapina deste lugarejo de 50 casas, município de Perdizes. Hoje na Fazenda Pão de Açúcar, saída de Araxá – MG para a capital Belo Horizonte. Foi gravada a cantiga deste carro.
De Manoel Borges da Silveira:
Um carro de boi
Um carro de boi
Ainda me lembro... E hoje, mais forte, me lembro do último carro de boi feito na Perdizinha. Nem é certo que seja o último e também que o carapina fosse o único. Não interessa a precisão do fato, interessa a lembrança infinita de um tempo que se foi, o tempo do carro de boi.
Para carga mais nobre e viagem de capital, passava a “Maria fumaça”, Rede Mineira Viação, atravessando o chapadão, jogando faísca. Apitava na curva e vinha firma, persistente. Todos contentes, afinal chegava apesar do atraso, na pacata estação das Alpercatas. Terminavam as conversas, se não houvesse conversa o tempo não passava.
O carro de boi também passava e às vezes até com seis juntas de bois. Passava e cantava e o carreiro aboiava e gritava: “Vai pra frente candeeiro... Volta Malhado, afasta Pintado”. O ferrão cutucava, os bois se alinhavam e o carro ia se afastando numa toada comprida até ganhar o espigão rumo a fazenda.
Hoje, o que resta? Fazenda, triste tapera. Currais, porteiras arreadas, cocheiras destelhadas. O que mais resta? Resta o último carro de boi. Foi deixado numa “meia água”, inútil, desamparado de uma cultura sem memória. Se não último, dos últimos. Feito com trabalho de trinta dias pelo também último carapina da Perdizinha, o mestre no assunto de carro de boi: Antonio Borges da Silveira, o conhecido pelo nome de Antônio Mizael. Restam ainda, a saudade no coração e as lágrimas nos olhos. Tempos de minha infância que não voltam, nunca mais!
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